sexta-feira, abril 21, 2006

Chegando a Boston.

Saí daqui correndo. Foi muito animado. Tava esperando um email de confirmação de uma visita a um hospital, na verdade o Mass general, que é o hospital de Harvard. Como eu chegue lá foi toda uma história. E recebi o email uma semana antes da tal data que eu queria viajar, já foi meio em cima. Além disso, em seguida a minha programação de datas de visita a esse hopsital, meu chefe iria dar uma aula num congresso internacional em Toronto, que fica a 2 horinhas de boston, onde eu ía estar. Daí quando eu recebi a tal da confirmação que eu nem acreditava mais que iria efetivamente chegar, eu resolvi ir ao Canadá também. Visto americano eu já tinha, mas canadense não. E normalmente leva um mês para sair. Lá fui eu tentar alguma coisa, sendo que não existe embaixada no Rio. Tive que mandar meu passaporte pra sp e rezar muito. E eu recebi o passaporte de volta na sexta feira de manhã, sendo que a minha passagem era comprada pra sexta a noite. Tirando isso eu tinha uma mega prova na sexta a tarde, a qual eu não podia não fazer. Além disso, foi difícil arrumar um lugar pra ficar e fechar tudo, pq Boston é caríssimo, e eu precisava de um lugar perto do hospital. Resumindo, eu fechei um apartamento em Boston na quinta a tarde, depois de saber que meu visto tinha saído. Comprei passagem quinta a tarde, depois disso. Embarquei na sexta a noite, com quase uma semana de noites viradas.
Dormi um pouco no avião, apesar de ter sacudido um monte. Eu morro de medo de avião. Eu sempre carrego uns remedinhos pra dormir e uns calmantes, mas meu pai me encheu tanto o saco que eles iriam encrencar comigo no aeroporto que eu resolvi não levar nada. Realmente, talvez tivessem implicado se eu tivesse alguma coisa. Eles tão revistando individualmente cada mala e pessoa que embarca, um saco ! Tirando isso nessa semana que eu embarquei minha mãe tava em sp, o q tb não ajudou, pq meu pai e meu irmão ficam meio desnorteados. Mas eu no fim das contas consegui embarcar. Deu tudo certo, foi quase um milagre.
Cheguei em Boston e faziam uns 6 graus negativos. Achei o tal apartamento que eu aluguei e desmaiei. Acordei as 8 e 30 da noite. Uns amigos de um amigo meu tinham combinado de me levar pra dar uma volta. Fui tomar banho. Pra minha surpresa a agua quente não funcionou e a banheira estava entupida. Ligo pra um telefone de emergência. O cara diz que sente muito mas os encanadores não trabalham fins de semana e que eu ía ter que me virar com agua a zero graus. Eu respiro fundo, penso e começo a falar educadamente que eu venho do Rio de Janeiro onde ontem faziam exatos 40 graus, e que agua a 0 graus era impossível, muito mais com a banheira entupida. O cara repete a mesma história. Eu respiro mais uma vez e começo a ser agressiva e dar uns gritos. O cara entende o recado, diz que vem me buscar e vai me colocar em outro apartamento até segunda feira. Eu agradeço cordialmente.
Depois de me instalar no tal outro ap, que era bem trash, esses amigos do meu amigo me pegaram e me levaram num club estranhíssimo. Uma coisa indiscritível. No melhor estilo brega americano. Ficamos lá um tempo, tomamos uns drinks e eu já tava caindo de sono. Resolveram me levar pra casa e até chegar ao carro, exata uma quadra, acho que eu congelei todos meus dedos. Nevava.
Acordei domingo no maior pique de ver a cidade. Eu também tinha que comprar um sapato para ir pro hospital na segunda feira. Eu não tinha bota de frio. Saí do tal quarto umas 9 da manhã fui tomar café numa livraria na rua principal, um lugar lindo. É cheio de gente correndo de manhã nas ruas de Boston. No caminho desse lugar eu via as pessoas correndo de camiseta, sem casaco, mas eu tava morrendo de frio. Achei que tivesse alguma coisa errada comigo, afinal eu tinha umas 4 ou 5 camadas de roupas de lã e luvas. Quando descobri, faziam menos 7 graus. Entrei nessa livraria e resolvi tomar café de americana. Pedi um omelete. Só que os omeletes lá são de 5 ovos ! E de grátis você ganha um Bagel tamanho família com Cream cheese. Pedi um café com leite pequeno, que era uma xícara de 300ml. Comi metade, deixei metade. O garçon veio me perguntar se tava tudo bem. Eu tentei explicar o lance dos tamanhos que servem pra alimentar 5 pessoas. O cara não entendeu muito não. Paguei e fui embora. Comecei a andar na rua principal que era lindinha, mas era muito cedo e tava tudo fechado ainda. Em 20 minutos meus dedos começaram a doer, e em 25 minutos eu não sentia mais nada. Tive que entrar num café. Acabei pedindo um expresso. Isso se repetiu umas 5 vezes e eu tive que consumir milhares de expressos até alguma coisa começar a abrir. Andei a rua inteira, mas mesmo fazendo sete graus negativos as lojas todas exibiam coleção nova de verão. E quando eu entrava nas lojas e pedia uma bota de inverno me olhavam com cara de índio. Tive que apelar e ira pra downtown. Fazia muito frio e o metro era longe. Peguei um taxi. Era pertinho. Cheguei lá e parecia outra cidade. Uns negros de 2 metros de altura, hip hop nas alturas em algumas lojas. Encontrei uma loja de sapatos gigantesca de 4 andares. Comprei logo 2 botas só pra não ter mais que voltar lá. Eram umas 5 da tarde e eu ainda tinha uma missão : comprar um laptop pro meu irmão. Não existem cyber cafés em Boston. Todos os cafés tem wi-fi, então as pessoas levam os laptops. Em comprando um computador pro meu irmão eu solucionaria meu problema de internet. E como eu passaria a semana toda no hospital, queria resolver logo esse assunto. Fui eu a um shopping em uma outra cidade, perto mas outra cidade numa best buy catar o brinquedinho. Cheguei lá., com as especificações na mão, e descobri logo que esse modelo estava em promoção. Quase pedi 2. Consumismo é foda ! Mas era um brinquedinho top de linha, e custava 1300 dolares. Aqui custaria uns 8 mil reais. Computador comprado, me ofereceram um tal de um check sei lá o que, que na verdade era pra ver se o treco tinha algum defeito de fábrica. Aceitei, era de grátis mesmo. E eu não tava a fim de voltar nesse lugar. Resolvido problema resolvi comer. Eram umas 8 da noite e eu tava morta. Tudo certo, peguei um taxi de volta. Cheguei no ap, tinha wi-fi lá. Pra minha felicidade conectei a internet e depois de quase 3 dias sem abrir um email foi a minha felicidade.

sábado, abril 15, 2006

Sweet Brian.
Foi um cara que eu conheci. Do interior de Indiana. Um estado que eu mal sabia que existia. Viajei sem préconceitos. Mentira ! Viajei achando que eu ía odiar os EUA, e os americanos todos. Achei que eu ía ver aqueles obesos bizarros, e aqueles aculturados all over. Doce engano. Boston foi uma agradável surpresa. Quase não há aquelas pessoas gigantescas. De manhã, nas ruas, há milhares de pessoas correndo. Os cafés fervem durante o dia todo. E de ignorantes, os bostonianos não tem nada. É uma cidade muito conservadora ainda. Mas acredito que vai mudar. Há ares de coisas novas lá. A sensação é que as coisas acontecem, e da melhor forma. Coisas novas são criadas. Novas idéias. E no meio desse pequeno sonho, surgiu esse americano simpático, de 2 metros de altura. Impossível ficar ao lado dele e não rir. Super sarcástico o tempo todo, nerd, muito nerd. Afinal, os americanos que fazem acontecer são nerds mesmo. São capazes de passar os fins de semana na biblioteca e ficar felissíssimos. Incrível. Mas não foi isso. Sarcástico e pé no chão. Nerd mas realista. Uma das primeiras coisas que ele me disse foi que ele era excessivamente transparente. Foi aí, nesse momento que eu me senti cúmplice. Fugimos de um happy hour de work. E ele foi quem me disse que eu podia simplesmente ir embora, sem dar tchau pra ninguém. Nossa, como eu gostei. Como eu gostei da situação e dele. Houveram momentos em que estávamos exaustos, e mesmo com poucos dias, eu estava confortável. Não houve despedida. Eu proibi desde o início o assunto. Achei que ficaria bem. Pelo menos ok. Mas isso não aconteceu. E eu acabei triste. Pela situação, e pela impossibilidade. Eu me apeguei. Fui e queria de volta. Queria muito. Vieram lágrimas, repetidas vezes. Mas foi um sentimento meu. Essa curta cumplicidade há muito eu desconhecia. E me deixou feliz entender que o problema não é meu. Aliás, talvez em parte seja meu, mas em relação à outras coisas. Foram dias felizes. E agora, me tombo nostálgica desses dias. E é difícil não sentir saudades. Ele me deu tchau. Eu ainda não consegui dar esse mesmo tchau. Nem sei se quero. Na verdade, analisando, acho que é necessário. Faz parte do meu processo não desligamento. E até que ponto eu deveria respeitar esses meus sentimentos e até que ponto eu deveria ser mais pragmática ?! E estar presa nisso me deixa menos livre. E acho que eu preciso dessa liberdade. É tudo absolutamente confuso.

Apego.

Recentemente tenho tido vários problemas de apego. Aliás, eu confesso, tenho sempre problemas de desligamento ; de gente, de coisas, de papéis velhos, de coisas da minha infância... E ultimamente isso tem me feito muito mal. Eu não me sinto livre, eu não sou efetivamente livre. Eu sou excessivamente nostálgica. O desapego do existencialismo que eu achava que tinha, é uma grande farsa. Eu me enganei um tempão. Eu me sabotei ! E agora de alguma forma estou pagando preço. E eu não sei exatamente onde eu estou e nem sei lidar com isso. A sensação que eu tenho é que cada experiência que eu tive com alguém me aproximou de alguma forma dessas pessoas. Mas as pessoas nunca tem esse sentimento. Meus sentimentos ultimamente são 100% unilaterais, com amigos ou qualquer outro. O valor que eu dou às experiências que passaram acredito hoje ser excessivo. O valor que eu dou aos bens materiais é excessivo ! A sensação de agora é que de alguma forma preciso me desligar do mundo externo e pensar mais em mim, mas pra frente, sem tanta nostalgia. Será que isso tudo é medo de perder coisas ???????????